Deslocamentos

A série fotográfica Deslocamentos do corpo: uma cartografia do existir é uma investigação poética e política sobre o deslocamento como experiência existencial e transformadora. Inspirada nas memórias de infância da artista e em seu fascínio por viagens, a série explora como o corpo — especialmente o corpo feminino — se transforma a cada novo encontro com o desconhecido. A autora rememora suas primeiras viagens como momentos de encantamento e descoberta, nas quais a observação atenta das pessoas e dos espaços a marcaram profundamente. A fotografia, inicialmente uma tentativa de preservar essas experiências, torna-se o meio privilegiado para cartografar esses deslocamentos, não apenas geográficos, mas subjetivos.

Influenciada pela figura do flâneur — o observador urbano errante descrito por Baudelaire e Benjamin —, a artista se apropria dessa perspectiva, mas a transforma criticamente, reconhecendo que a experiência do caminhar pela cidade é, para as mulheres, atravessada por desigualdades históricas e sociais. A ausência da flâneuse no discurso clássico revela o silenciamento das vivências femininas no espaço público, marcadas por opressões estruturais.

A série, assim, constrói-se como uma cartografia visual do corpo em movimento, onde cada imagem registra não apenas um lugar, mas uma experiência de transformação. O corpo da artista, atravessado por vivências, memórias, subjetividades e lutas, é o ponto de partida para uma pesquisa sensível que enxerga o ato de fotografar como forma de resistência, de afirmação e de existência plena. Trata-se de um mapeamento afetivo e político da experiência feminina no mundo, onde deslocar-se é também reivindicar o direito de existir em liberdade.