Suspensão

A série fotográfica Suspensão propõe uma reflexão visual sobre os limites e possibilidades dos corpos — especialmente o feminino — em espaços simbólicos e reais, a partir das noções de heterotopia de Michel Foucault. Esses contraespaços, como definidos pelo filósofo, rompem com as normas e expectativas do cotidiano, suspendendo convenções de tempo, espaço e identidade. Nas imagens da série, há sobreposições, manipulação digital e elementos simbólicos para criar atmosferas ambíguas e densas, que evocam o deslocamento, a resistência e o desejo de transformação.

A série nasce de um momento pessoal de transição e incerteza: o processo seletivo para o mestrado, que se cruza com obstáculos profissionais, emocionais e sociais — muitos deles marcados pelas imposições do gênero. O trabalho revela a tentativa de forjar espaços de existência em um mundo que impõe restrições aos corpos femininos, como o medo de caminhar sozinha à noite ou o sentimento de não pertencimento em certos territórios.

Cada imagem apresenta uma "suspensão" entre o real e o imaginário, onde o corpo feminino, fragmentado ou sobreposto ao ambiente, se torna símbolo de resistência e reconstrução. As composições dialogam com as ideias de Judith Butler sobre performatividade de gênero e questionam a materialização das normas que delimitam quais corpos são válidos ou visíveis.

Suspensão constrói visualmente heterotopias femininas: espaços de transgressão, onde o corpo desafia os controles e afirma sua presença. Assim, a série se torna uma metáfora poética e crítica sobre a luta por autonomia, reconhecimento e reconfiguração dos lugares que historicamente negaram acesso e pertencimento às mulheres.